Dívida Pública, Geopolitica, História Brasileira

Cronologia dos empréstimos brasileiros, segundo Gustavo Barroso

Cronologia dos empréstimos brasileiros feitos no período imperial, pós independência, com base no livro de Gustavo Adolfo Luís Guilherme Dodt da Cunha Barroso, mais conhecido como Gustavo Barroso, autor do livro “BRASIL – Colônia de Banqueiros” (História dos empréstimos de 1824 a 1934) – resumo cronológico feito com o auxílio da ferramenta notebooklm.google.com/

“Aqui está uma cronologia dos empréstimos brasileiros, conforme descrito no livro:

* **1824**: O Brasil entra na vida independente com um empréstimo português. O Príncipe D. Pedro, no Manifesto de 6 de agosto de 1822, denuncia que as Cortes de Lisboa tomaram os recursos do Banco do Brasil, que já estava sobrecarregado com uma enorme dívida nacional. O Brasil então se volta para os banqueiros judeus de Londres para um empréstimo, com o primeiro contrato assinado em 20 de agosto de 1824. O autor considera 12 de janeiro de 1825 o dia em que os banqueiros colocaram o pé no Brasil e o país passou a trabalhar para eles durante cem anos1. O empréstimo de um milhão de libras foi dado por 30 anos, com 1% de amortização, 5% de juros anuais e tipo de 75.

* **1825**: A segunda operação do empréstimo da independência é contratada com a casa Rothschild em janeiro. As condições são semelhantes ao empréstimo anterior, com 2 milhões de libras a um tipo de 85, mas a serem entregues em 12 prestações mensais.

* **1829**: Um novo empréstimo é contratado com a casa Rothschild com um tipo de 52, considerado monstruoso pelo autor. O contrato é assinado em 26 de junho pelo Visconde de Itabaiana, hipotecando nominalmente a alfândega do Rio de Janeiro.

* **1830**: Há grande clamor no Rio de Janeiro contra o empréstimo de 1829, com Holanda Cavalcanti o condenando no parlamento e a imprensa criticando os arranjos financeiros de Londres. D. Pedro I escreve a Barbacena, então Ministro da Fazenda, expressando sua disposição para examinar as contas da “Caixa Mágica”.

* **1843**: O Brasil obtém um empréstimo de 662.702 libras, que custou à nação 1.465.200 libras em juros.

* **1852**: Após a expulsão do Brigadeiro Juan Manuel de Rosas, os Rothschild concedem um empréstimo de 954.250 libras reais por 1.040.080 libras nominais, com um tipo de 95 e juros de 4,5%. O dinheiro se destina a resgatar dívidas dos empréstimos de 1824 e do empréstimo português de 1823. O contrato é assinado em 27 de julho e inclui comissões e percentagens para a casa Rothschild.

* **1858**: O Barão de Penedo negocia um empréstimo com Rothschild para a expansão da Estrada de Ferro D. Pedro II. O empréstimo é de 1.425.000 libras reais e 1.526.000 libras nominais, com um tipo de 95,5% e juros de 4,5% por 30 anos.

* **1859**: Um novo empréstimo é negociado para cobrir as dívidas remanescentes do empréstimo de 1829.

* **1860**: O Barão de Penedo negocia outro empréstimo com Rothschild para a construção de estradas de ferro, com um tipo de 90 e juros de 5% por 30 anos. O empréstimo rendeu 1.089.000 libras, mas o custo total foi de 3.025.000 libras.

* **1863**: D. Pedro II expressa preocupação com as comissões recebidas pelo Barão de Penedo em um empréstimo negociado em Londres. O Barão de Penedo se defende das críticas, argumentando que as condições do mercado financeiro londrino eram desfavoráveis e que outras nações obtiveram empréstimos em condições ainda piores.

* **1865**: O Barão de Penedo negocia um empréstimo de 5.000.000 libras com Rothschild para financiar a Guerra do Paraguai. O valor nominal é de 6.363.613 libras, com juros de 5% por 37 anos e várias comissões. O capital recebido foi de apenas 3.700.000 libras, enquanto o custo total chegou a 14.668.950 libras.

* **1871**: O conselheiro José Carlos de Almeida Areas assina um contrato com Rothschild para um empréstimo de 3.000.000 libras reais e 3.459.634 libras nominais, com juros de 5% e prazo de 38 anos. O capital recebido foi de 2.670.000 libras, mas o custo final, incluindo juros, atingiu 10.031.938 libras.

* **1886**: José Antonio de Azevedo Castro negocia um empréstimo de 6.000.000 libras reais por 6.421.000 libras nominais com Rothschild, com juros de 5% e prazo de 37 anos. O empréstimo incluía 1% sobre os dividendos, ½% sobre os resgates e 1/8% de corretagem, além de 1% do capital para o pagamento da dívida flutuante.

* **1888**: O Ministro da Fazenda, João Alfredo Corrêa de Oliveira, negocia diretamente com Rothschild um empréstimo de 6.000.000 libras reais e 6.257.200 libras nominais, com um tipo de 97, juros de 4,5%, comissão de 1,5%, corretagem de 1% e prazo de 37 anos. O empréstimo rendeu 5.820.000 libras, mas o pagamento total de juros e capital alcançaria 14.548.885 libras.

* **1889**: O Império deixa para a República uma dívida externa total de 30.283.200 libras, sem contabilizar os juros a serem pagos. A dívida, que começou em 1824 com 3.000.000 libras, havia crescido dez vezes em 65 anos, apesar dos pagamentos constantes de juros e amortizações.

* **1898**: Após a proclamação da República, a situação financeira do Brasil piora. O Ministro da Fazenda pinta um quadro sombrio, descrevendo agitações políticas, revoltas e alterações na ordem. É realizado um empréstimo de consolidação, conhecido como *funding*, para regularizar a situação financeira do país. A dívida é convertida em títulos com juros de 5% por 63 anos.

* **1901**: É realizado o empréstimo de Rescisão, destinado a encampar estradas de ferro com garantias de juros. A casa Rothschild contrata o empréstimo por 61 anos, com juros de 4%.

* **1911**: É realizado um empréstimo para a Rede de Viação Cearense, com metade da quantia depositada no The Russian Commercial and Industrial Bank of London, que faliu, levando consigo parte do dinheiro.

* **1913-1914**: Uma crise financeira aguda leva a um novo empréstimo de consolidação de 15.000.000 libras. Os Rothschild entram diretamente nas operações feitas na França.

* **1919**: Em 1919, o Ministro da Fazenda, João Ribeiro, concedeu à casa Rothschild o direito de resgatar títulos do empréstimo de Rescisão pela emissão de títulos do novo funding. Essa decisão, considerada onerosa por alguns, foi vista com bons olhos pelos círculos financeiros de Londres e repercutiu positivamente na cotação dos títulos brasileiros. A casa Rothschild agradece a decisão.

* **1922**: Um empréstimo foi realizado para financiar o café, mas os detalhes sobre o valor e os termos não são fornecidos no livro. O autor destaca que, em 1922, ao comemorar a independência, o Brasil devia $ 1.119.000.000, um aumento significativo em relação à dívida inicial de £ 3.000.000 em 1824.

* **1926**: Foi realizado o empréstimo de Amortização para lidar com os compromissos do Tesouro, mas, novamente, o livro não fornece detalhes específicos sobre o valor e os termos. No Rio Grande do Sul, um empréstimo de $ 10.000.000 foi tomado para pagar a dívida flutuante, com uma taxa de juros de 7% ouro até 1966.

* **1927**: O livro menciona que este foi o ano dos últimos empréstimos da República Velha. No Rio de Janeiro, foram realizados dois empréstimos: um para converter £ 1.473.000 remanescentes de um empréstimo de 1912, e outro de £ 1.300.000, a um tipo de 97 e juros de 7% até 1964. Em Pelotas, vários municípios consolidaram suas dívidas por meio de um empréstimo externo de $ 4.000.000 a 7%. Em Santos, um empréstimo de £ 2.250.000 foi tomado, com juros de 7% até 1957.

O livro descreve a história dos empréstimos brasileiros como uma tragédia, com o país constantemente se endividando para pagar juros de empréstimos anteriores, e sendo explorado pelos banqueiros internacionais. O autor critica a dependência do Brasil em relação ao capital estrangeiro e defende a necessidade de uma economia dirigida que liberte o país da tutela dos banqueiros. Também critica a recorrência a empréstimos externos como solução para problemas financeiros internos, e a falta de investimento em projetos que beneficiem a população. Ele argumenta que os empréstimos servem principalmente para alimentar outros empréstimos e enriquecer os banqueiros internacionais, às custas do povo brasileiro.

Há ainda algumas tabelas que o livro fornece com os empréstimos:

  1. “Os brasileiros devem guardar bem guardada a lembrança da data: – 12 de janeiro de 1825. Nesse dia, os banqueiros puseram o pé sobre o nosso corpo, passamos a pertencer-lhes e durante cem anos para eles trabalhamos.”. BARROSO, Gustavo. BRASIL – Colônia de Banqueiros (História dos empréstimos de 1824 a 1934). 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S/A, 1936. p. 14 e 15. ↩︎

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